sexta-feira, 2 de maio de 2014

ENTREVISTA COM O PROF. ISRAEL ARAÚJO

BLOG FOLHA DE IGARAPÉ-MIRI. ENTREVISTA:  Professor  Israel  Fonseca  Araújo,  membro  do  Sintepp  em Igarapé-Miri; membro  da  Coordenação  Regional  do  Sintepp  –  Regional Tocantins I. Professor e Mestrando em Letras (UFPA)
FOLHA DE IGARAPÉ-MIRI – O senhor trabalha na Educação, há quantos anos? Nesses  anos  todos,  quais  as  principais  mudanças que  o  senhor  viu acontecer nessa área? 
Professor Israel Araújo –  Eu já atuo na educação pública há 17 anos, desde 1997. Esses anos me trouxeram uma experiência de vida significativa; aprendi muito  nos  cursos  das  universidades, mas,  principalmente,  aprendi  com meus companheiros e companheiras de trabalho e de lutas sociais. A Vida é a maior de todas as universidades públicas. As principais mudanças que eu vi foram a entrada em vigor da LDB/1996, a lei maior da Educação brasileira, e as melhorias na estrutura da educação brasileira (com destaque para os anos 2003 em diante), com destaque para: a expansão da oferta de vagas nas escolas (anos 1990 em diante), crescimento incontestável da educação superior (também de 2003, em diante, na chamada era “pós-Lula”), relativa melhoria da renda dos trabalhadores/as  do  Magistério,  na  Educação  Básica,  e melhorias  salariais,estruturais e ingresso de educadores/as via concurso na rede pública de ensino de Igarapé-Miri.
FOLHA DE IGARAPÉ-MIRI –  Neste  dia  primeiro  de  maio (assim como em todos os anos) há grandes festas pelo território municipal, alusivas ao Dia do Trabalhador. O trabalhador da Educação miriense tem muito o que comemorar?
Professor  Israel  Araújo  –  As  festas  “dos  trabalhadores”  são muito  válidas; precisamos, mesmo, nos confraternizar nesse dia, já que fazemos o mundo do trabalho  existir.  Sem  trabalhadores  e trabalhadoras  o  mundo  para.  Nossos trabalhadores/as mirienses têm, sim, o que comemorar – como já dito na resposta anterior. O PCCR do Magistério (2010), o PCCS (2006), os concursos públicos de 2006 e 2009, reajustes salariais (principalmente a chamada incorporação de vencimentos,  de  janeiro  de  2012)  e  melhorias  na  estrutura  da  rede,  desde  à primeira gestão de Mário Leão (anos 1997ss) e com destaque para o trabalho do ex-prefeito Roberto Pina (2009-2012). São conquistas que jamais existiriam semas  lutas  e  a  união  dos  trabalhadores/as  de  nossa  Educação:  principalmente  oPCCR do Magistério (2010), o PCCS (2006) e os concursos públicos de 2006 e2009. Isso prova que, na união, somos muito mais fortes.
FOLHA DE IGARAPÉ-MIRI – Como está a luta sindical, liderada pelo Sintepp,em Igarapé-Miri  e  quais  são,  na  sua  opinião,  as principais  conquistas  desse esforço que começa ainda nos anos 1980?
Professor  Israel  Araújo  –  A  luta  está  bem  organizada  e vivenciada,  mas sentimos uma maior ausência de trabalhadores/as nas lutas (em relação aos anos 1980, 1990), nestes anos 2009 e seguintes. Eu, de minha parte, credito esse maior “comodismo” a alguns fatores: a) muitos sindicalizados passaram a ter uma renda relativamente  depois  de  2009,  com a conquista  das  chamadas duzentas  horas mensais; houve reajustes nesses anos e as conquistas foram maiores do que em anos anteriores; o número de concursados cresceu muito depois de 2006 e, parece uma  ironia, mas  os  pagamentos  em  dia,  desde  2009  até  os  dias atuais “prejudicam” a luta sindical. Às vezes, achamos que, se o salário tá melhor e os pagamentos em dia, já dá para “descansar” um pouco.
FOLHA  DE  IGARAPÉ-MIRI –  Quais  são  as  suas  principais  expectativas  de conquistas para a Educação, nos anos vindouros – seja a nível nacional, seja a nível local? 
Professor  Israel  Araújo –  Eu  creio  muito  nos  resultados  do trabalho  de deputados federais e senadores, pois eles podem aprovar o próximo PNE – Plano Nacional  de  Educação,  de duração  decenal,  instrumento  que  deve  ajudar  na condução da política educacional ao estabelecer metas e propor avanços para a educação nacional; esses parlamentares também podem destinar mais recursos públicos  para  a  educação.  No  plano  estadual tivemos  um  retrocesso  nestes últimos anos, com a não-realização de concursos públicos, não-cumprimento da Hora-Atividade (é lei nacional, mas o governo do estado se mantém omisso nessa responsabilidade) e descumprimento de acordos firmados com trabalhadores/as da educação em greve, desde 2011. Espero por mudanças nesse cenário, pois os retrocessos são visíveis. Quanto a Igarapé-Miri, acredito que seja possível estabelecer um diálogo mais produtivo  entre  sindicalistas  (que  são  os  legítimos defensores  da  educação pública)  e  governistas  (que  são gestores,  homens  que  executam  ações  que impactam a vida dos trabalhadores/as e do alunado). A implementação do Plano Municipal de Educação, do Conselho Municipal de Educação (ponto histórico de luta  sindical),  do  Sistema  de  Ensino  de Igarapé-Miri,  do  PCCR  (Plano  de Carreira)  para  os servidores/as  do  Apoio  escolar  e  a  realização  de  Eleições Diretas  para  diretores  de  escolas  públicas  com  mais  de  300 alunos matriculados(as) são pontos fundamentais a serem alcançados, se nosso objetivo maior for melhorar a estrutura e obter melhores resultados para a vida escolar de nossas crianças e jovens. Caso  consigamos  somos  esforços,  deixando  as  “diferenças”  de lado,  ótimos resultados deverão surgir.
FOLHA  DE  IGARAPÉ-MIRI –  Quais  são  seus  maiores  “medos”,  caso  eles existam, em relação à luta dos trabalhadores e trabalhadoras em Educação de Igarapé-Miri? 
Professor Israel Araújo – O maior “medo” é o de não conseguirmos renovar as nossas  esperanças  para  que  seja  possível  uma  reunião  de  esforços:  os sindicalistas e demais trabalhadores/as da Educação pública dedicando-se ainda mais  na  busca  de conquistas  relevantes  e  duradouras;  os  gestores  públicos atuando de maneira LEGAL, MORAL e IMPESSOAL na condução da política pública educacional, na aplicação dos recursos públicos; os vereadores/as (que têm como principais atribuições a fiscalização da aplicação de recursos públicos,feita pelo executivo, e a defesa dos interesses dos cidadãos, da coletividade –pois são representantes do povo) defendendo a sociedade e a educação públicacomo  um  todo;  e  a  sociedade  civil  (principalmente:  ONGs,  associações  demoradores,  pais  e  alunos)  unindo-se  aos  educadores  em suas  lutas  por  umaeducação de melhor qualidade.Acima de tudo fica uma “dica”: a Esperança tem de vencer o medo, sempre. Nãotemos outra escolha plausível. 
FOLHA DE IGARAPÉ-MIRI – O que os gestores municipais precisam fazer para que os profissionais da educação se sintam mais valorizados? 
Professor  Israel  Araújo –  Eu acredito  na  carreira,  ou seja,  as condições  de trabalho precisam ser melhoradas ainda mais (só trocar quadro de giz por quadro magnético ajuda muito pouco),  pois  com melhores condições de trabalho nas escolas os docentes terão mais motivação para trabalhar. E o que é mais grave:os educadores/as terão mais motivação para continuar trabalhando na Educação Básica e na escola pública. Esses gestores precisam tratar os educadores com extremo respeito,  mesmo porque a força dos educadores,  nas salas de aula,  é impossível  de  ser  medida.  É  preciso  melhorar  mais  ainda  a  renda  dos trabalhadores  e  oferecer  programas  de  assistência  à  saúde  desses trabalhadores/as. Acreditem:  os  trabalhadores  e  as  trabalhadoras da  Educação  pública  estão adoecendo aos montes, principalmente por culpa das más condições de trabalho e da sobrecarga de trabalho. 
FOLHA  DE  IGARAPÉ-MIRI –  E  que  ações  efetivas  esse  gestores  precisam realizar para que a Educação Municipal possa se desenvolver plenamente?
Professor  Israel  Araújo –  Realizar  mais  concursos  públicos  para  que  ostrabalhadores/as sejam efetivados e se sintam mais encorajados a defender seusdireitos.  Realizar  lotação  de  acordo  com  as  necessidades  reais  da  educaçãomunicipal, baseada em critérios técnicos instituídos por Portaria de Lotação –atualizada a cada início de ano. Atualizar o PCCR do Magistério (lei de 2010) ecriar o PCCR para os servidores de apoio. Acabar com as indicações “políticas” para  preencher  cargos  de  diretor(a)  de  escola,  já  que  essas  indicações  sãobaseadas em critérios os mais impensáveis possíveis. Acima  de  tudo,  tirar  das  gavetas  dos  governantes  as  Propostas  do  Povo  deIgarapé-Miri,  colhidas  em  conferências  de  Educação,  e  transformar  asnecessidades de nossa Educação em Plano de Educação: uma política pública queindependerá das “paixões” de quem está governando com a força das canetasmais versáteis que se possa imaginar.
FOLHA DE IGARAPÉ-MIRI – O que você acha do atual índice do município, que tem uma média de 3.7 no IDEB? E o que necessário se fazer para aumentar esta média?
Professor  Israel  Araújo –  É  um índice  muito  baixo,  que  talvez revele  um princípio de caos em nossa Educação (e aí  seria  preciso investigar  as causas desse insucesso). Porém é preciso lembrar que esse índice é um número, uma medição  –  e  números  nem  sempre traduzem  as  realidades.  Números  podem mascarar realidades. Tendo em vista que a grande maioria dos docentes de nossa rede de ensino tem nível superior completo, muitos(as) com inúmeras formações continuadas  realizadas  e  em  curso,  tantos  com Especializações  cursadas,docentes cursando e/ou com Mestrados acadêmicos já concluídos, fica um pouco difícil aceitar que estejamos regredindo nessa matéria. Acredito que a solução pra essa questão está nas medidas que foram listadas  desta entrevista. Mas acrescento que, sem trabalho coletivo, nada de bom e duradouro é conseguido na área educação. Ninguém se educa sozinho, nem jamais um galo, sozinho, tecerá uma manhã.
___________________Entrevista concedida via e-mail e publicada com a autorização do entrevistado. Contatos:  Israel  Fonseca  Araújo  –  poemeiro@hotmail.com;  Facebook IsraelAraújo.

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